Sunday, June 28, 2009

Vovó e Vovô - Parte 1

- Vovó, me conta uma estória!

- Que estória você quer escutar, meu filho?

- Ah... Qualquer uma... Só pra dar sono, vai...

- Que tal a estória de vovó e vovô?

- Pode ser. É longa?

- Um pouco.

- Ótimo! Então conta!

- Então vamos lá... Vovó e vovô se conheceram e se apaixonaram logo de cara.

- Vocês se apaixonaram um pela cara do outro?

- Não foi isso que eu quis dizer. Mas... Bem... Vamos dizer que, no mínimo, acharam a cara um do outro agradável.

- E aí?

- E aí que, logo de início, se deram muito bem e logo começaram a conviver bastante. Vovó e vovô tiveram uma sorte grande logo de início...

- Qual foi?

- Que a família de cada um gostou bastante dos novos personagens da família. Olha, meu netinho, tente aprender isso bem cedo: o mais importante de tudo é que a sua família goste da sua namorada e que a família da sua namorada goste logo de você...

- Mas, por que?

- Porque assim você terá completa liberdade para se apaixonar perdidamente por aquela pessoa.
- E qual o problema de se apaixonar perdidamente quando as famílias não gostam dos respectivos?

- Bem, quando você briga com sua namorada e sua família não gosta dela, eles vão fazer de tudo para que o seu namoro acabe de vez. Quando a família apóia o relacionamento, eles fazem de tudo para que dê certo no final, ajudando nas crises, nas brigas e até nos momentos difíceis quando, na raiva, se acaba o namoro.

- Isso aconteceu com você e com vovô?

- Várias e várias vezes.

- E vocês sempre voltavam?

- Várias e várias vezes.

- Isso não é ruim?

- Não, isso é bom.

- Como pode ser que “acabar várias e várias vezes” seja bom?

- Seria impossível para mim explicar isso de uma forma correta para você porque, mais do que tudo, esse tipo de questionamento envolve o amor. E você sabe muito bem – que eu já te falei-, que o amor é essencialmente abstrato. Ou seja, não pode ser corretamente descrito, nem visto e nem ouvido.

- Oxe! E como uma pessoa sabe o que é o amor?

- Oras! Porque o amor é sentido. Agora, podemos para com as perguntas e continuar com a estória?

- Ta bom. Pode, pode.

- Então. O relacionamento de vovó e vovô tinha duas grandes e fortes características que, ao mesmo tempo, os uniam e os afastavam.

- O que era?

- Era o amor inexplicável que os circundava e orgulho extremo de cada um.

- Vixe!

- Pois é, vixe! Então, o que acontecia? Enquanto nós éramos completamente alucinados um pelo out-...

- Num era ‘apaixonados’?

- Alucinados e apaixonados são a mesma coisa.

- Ah!

- Então, enquanto nós éramos completamente alucinados um pelo outro, nós também carregávamos um orgulho imenso.

- E como isso é ruim se papai vive dizendo que tem muito orgulho de mim?

- É diferente e, provavelmente, a vovó não saberá explicar direito. Mas, o que acontecia entre vovó e vovô é que cada um, antes de se conhecerem, viviam vidas extremamente independentes. E quando se conheceram, essas vidas começaram a bater de cara uma com a outra.

- Elas não gostavam da cara uma da outra?

- Não, meu bem. É que... Hum... Deixa pra lá. Continuando... O que acontecia era que vovó nunca tinha dado satisfação a ninguém fora sua tataravó e seu tataravô e, cá entre nós, ela não tinha muita experiência em namoro. Já o seu avô tinha experiência até demais, mas, por outro lado, não tinha muito a quem dar satisfação.

- E aí?

- Aí que quando duas vidas diferentes assim se unem, certamente alguns contratempos irão aparecer. De forma que vovó e vovô brigavam muito no início. Todo dia era uma briga diferente. Era briga por causa do decote do vestido da vovó, briga por causa do jogo que o vovô queria assistir no barzinho, briga porque a vovó queria liberdade, briga porque o vovô queria assistir o jogo no barzinho com os amigos, briga porque a vovó queria viajar sozinha, briga porque o vovô queria assistir jogo no barzinho com os amigos tomando cerveja e por aí vai.

- Mas isso não demorou muito tempo, né, vovó?

- O quê?! Mas, meu netinho, isso durou e tem durado a vida inteira.

- Nossa! E vocês brigam pelo o quê?

- Ah, impossível listar tudo em uma conversa tão miúda. Mas, depois do futebol e da louça e da cerveja e do decote, muitas outras coisas surgiram. Quando noivamos, brigávamos porque eu não usava a aliança na academia e porque ele sempre ia conversar com os amigos antes de ir pra casa. Quando casamos, brigávamos por causa da cueca suja no chão, do jantar frio, da cama desarrumada, da feira caríssima e por causa do jogo no barzinho com os amigos. Quando tivemos sua irmã, brigamos pelo nome. Quando sua mãe teve você, brigamos pelo nome. Quando vocês foram crescendo, brigávamos por causa dos meus atrasos, das chegadas dele tarde da noite, do carro que não podíamos comprar, das almofadas do sofá que não existiam.

- Nossa!!! E como vocês agüentaram isso a vida toda?

- Porque, acima de tudo, éramos e ainda somos completamente apaixonados um pelo outro.

- Por que o vovô chama você de ‘minha neguinha’ se a senhora é branca?

- Porque, pra ele, eu sou a neguinha dele.

- E você o chama de quê?

- Ele é o meu feijão com arroz e farofa.

- Por que?

- Porque ele é indispensável. Além de fazer bem.

- Mas, eu ainda não entendo como vocês dois conseguiram passar tanto tempo juntos.

- Não sei nem explicar. Hoje mesmo brigamos porque eu não deixei um pedaço do filé de ontem para ele comer hoje de manhã...

- Vocês estão brigados?! E agora, vovó?

De repente, vovô entra pela porta do escritório carregando um buquê de flores do campo de todas as cores imagináveis. Vovó pega as flores e abraça vovô com carinho. Vovô fala bem baixo, só para vovó escutar: - Te amo, minha neguinha. Tem filé?



[L.F.]

28/06/2009

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Friday, June 26, 2009


Um belo dia eu decidi casar
Nem invente de me perguntar por quê
Casei porque queria uma família, filhos, uma casa
Pense numa decisão errada
Eu sabia que ia me arrepender

Quando eu me casei, pensei que estava feita
Casa boa, dinheiro bom, marido querido
Mas eu só não sabia de um negócio
Quando eu me casei com aquele troço
Casei também com os espermatozóides do maldito.

E era choro aqui e grito ali
E eu doida, sem ajuda, sem abrigo
Ligava louca atrás daquele sem-vergonha
Ele, “mulhé to numa reunião, se recomponha”
E tava mesmo era num happy hour com os amigos.

Antes de casar, era tudo uma maravilha
Era tesão, paixão quente e ardor
Antes era cerveja, agora é vinho
Era cama do pecado, agora é ninho
E a gente não transa mais, a gente faz amor.

Nossa lua-de-mel foi um absurdo
Caiu bem no mês da Copa do Mundo
Pense numa mulher azarada que eu sou
Eu não cheguei a ter nenhum orgasmo
E ainda tive que escutar daquele asno
“Ai de tu se o Brasil não fizer gol”.

Do nosso aniversário ele nunca lembra
Aí diz “desculpa meu amor, eu esqueço”
Aí não sei porque eu sempre invento
De comemorar a merda do casamento
Só pra ver o infeliz beber e vomitar logo no começo.

Quer saber de uma coisa, fiquei de saco cheio
Fiz minhas malas e fui embora
Pois o infeliz num veio atrás de mim
Essa miséria parece não ter fim
Ele ta dando uma de corno manso agora.

Pois eu fiquei com pena do coitado
E decidi, enfim, voltar
Eu disse “se você acha que eu sou burra
Pode tirar seu cavalinho da chuva
As coisas agora vão mudar”.

Botei a figura pra lavar e cozinhar
Abusei do coitado até na cama
Ele mal conseguia segurar o taco
No final de semana ficava só o caco
E ainda inventa de querer dizer que me ama.

E agora eu sou mulher casada e feliz
Meu marido nem sabe o que se sucedeu
De vez em quando ele ainda reclama um bucado
Eu digo “se tu ama tua vida fica calado”
Quem manda nessa merda agora sou eu.

[L.F.]
25/12/2007

Sunday, June 14, 2009

agarrei-me a ti como a um sonho:
não percebi quando chegaste
e, desde então, nunca mais acordei.

[L.F.]

Vi a Avenida Paulista de um lado
com meus olhos futuristas

Depois vi atravessada
com meu coração de turista

A impressão que ficou
foi a minha como artista.

[L.F.]

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