Thursday, September 28, 2006

Minha conversa com Deus:

Um dia eu conversei com Deus. Ele me disse que todo mundo sentia dor e que se não sentisse, jamais conheceria o alívio.

Deus me disse que errar não é pecado. Pecado é agir sabendo que a ação é um erro. Pecado é errar sabendo que aquele erro causará dor a alguém estimado.

Então fiquei tensa, mas Deus me disse que quando se ama, os erros são perdoados. Mas deve-se ter cuidado para não ferir novamente o coração magoado, pois um bom coração não merece ser quebrado duas vezes.

Eu tinha mais algumas dúvidas e perguntei a Deus por que insistimos em traçar maus caminhos. Ele me disse que só crescemos quando conhecemos tudo de bom e de mal que existe neste mundo. Que só faremos boas escolhas quando já tivermos experimentado más escolhas. Mas, que tivéssemos cuidado, pois se agirmos irresponsavelmente sempre, nos perderemos nestes maus caminhos e poderemos não encontrar nosso rumo novamente.

Então perguntei a Deus por que temos que ver alguém a quem amamos falecer. Ele me disse que a morte é uma coisa totalmente normal, que a vida é uma dádiva e o nascimento, um milagre. Então devemos festejar o nascimento, aproveitar e respeitar a vida e aceitar a morte.

Outro dia estava conversando com Deus e perguntei por que havia tanta guerra, tanta raiva, tanto descontentamento nesse mundo. Ele abaixou a cabeça e ficou pensativo. Seus olhos pareceram tristes e notei uma gota de lágrima caindo do seu brilhante olho esquerdo. Ele se virou para mim e disse: "Minha filha, eu não sei". E percebi que todos os dias magoamos Deus.

Tentei animar a conversa e perguntei o que ele achava da minha vida até agora. Ele ficou pálido, sério, hesitou um pouco. Disse-me que eu lutava contra as verdades, contra o certo, contra tudo que ele havia planejado para mim. Disse-me que eu O havia renegado, esquecido, maltratado. Chamou-me de hipócrita e de irresponsável. Disse que eu não tinha consideração pelos meus pais, pela minha irmã ou qualquer outro da minha família. Que eu não dava o valor necessário a tudo que eles me haviam proporcionado, que tudo para mim era lixo e eu não conhecia o significado de respeito. Jogou-me no chão e disse que eu perdi os meus valores, que perdi minha fé, minha moral, meus sonhos e até minhas conquistas. Para piorar a situação Ele disse que eu desaprendera a amar, a gostar, a dar e a receber carinho. Virei uma rebelde pós-modernista, com valores fracos e nenhuma perspectiva de crescer. Disse que eu virei uma verdadeira ilha de desespero.

Meu chão já era um rio de lágrimas enquanto Deus e eu chorávamos juntos. Nos acalmamos e, entre soluços, perguntei a Ele: "e agora?".

Deus juntou todas as forças do universo e alisou os meus cabelos. Uma onda de paz me percorreu e me acalmei. Ele disse: "Minha filha, você sabe quais são seus erros. Estou te dando, de presente, a mais poderosa ferramenta para que você resolva seus problemas: minha fé em você. Faça-me orgulhoso."



[L.F.]

Friday, September 15, 2006

Ela era um oásis de areias brancas e sedosas que inundava minha visão com seus movimentos abstratos e excêntricos. Sua presença era um ímã que me atraía a cada ponto sensual do corpo. Meus olhos nao viam a festa, as luzes, as pessoas, os olhares. Só viam ela, bela, seu todo num êxtase inimaginável, fantástico. Ela era a própria razão da minha maravilha. Ela dançava como se fosse a primeira dança do mundo, a primeira mulher a se perder num labirinto de ritmos e palavras.

Eu suava descontroladamente. Meu corpo tremia como uma nave espacial se preparando para decolar. Me imaginava voando em alta velocidade rumo ao céu com ela ao meu lado, olhando com para mim com aqueles olhos tristes de mel. E ela me perguntava "para onde vamos" e eu dizia "vou te mostrar as estrelas". Mas ela era quem guiava nossa aventura, ela comandava e mandava e eu obedecia como se o objetivo da minha vida fosse satisfazer suas vontades.

Eu virava e girava e procurava algo para desviar minha atenção, mas ela me corroía. E eu deixava e gostava. Perdi toda a vergonha. Todos os meus segredos foram revelados para o mundo e eu estava livre. Uma onda de alívio me percorreu o corpo, a alma. Parecia que esperava por aquele momento há milênios. Aquela mulher que faria com que se despertasse o melhor que havia em mim, o natural e lindo que havia em mim.

Ergui a cabeça e rezei para não me lembrar de nada no dia seguinte. Rezei para que o álcool guardasse toda aquela noite à sete chaves do meu consciente para sempre. Que apenas restasse uma sensação de felicidade e ternura.

A forte e pesada bateria de um rock qualquer que tocava, aos poucos, ia aumentando a minha coragem. Até que o solo da guitarra estourou, empurrando meu coração de encontro ao dela, carregando meu corpo em direção ao dela, fixando meus olhos aos dela que, para minha inocente surpresa, me olhavam com o mesmo desejo que os meus. E eu a engolia, a despia, a lambia com meus olhos. Via toda a extensão macia da sua pele, o emaranhado dos seus cabelos negros, a sua vontade de se entregar para mim.

Eu já quase correndo em direção a ela, esbarrando em pessoas sem rostos, sem identidade. Ela estava num êxtase que deixava sua face rosada, maravilhosamente corada. Eu cada vez mais perto e ela abria, lentamente, seus lábios. Sua língua brincava dentro da sua boca úmida, me convidando a provar da sua água, me convidando ao seu feitiço.

Cheguei ao seu encontro e não haviam palavras. Ela alisou meus cabelos longos, quase tão negros quanto os dela, acariciando meu pescoço e meus ombros. Me tomou pela mão e me puxou ao seu encontro. Virei, de repente, uma criança em suas mãos. Vi as pessoas se afastando de nós com surpresa. Ela me sorriu o mais lindo sorriso que jamais havia visto e, me puxando pela cintura, se agarrou em mim e me beijou com aqueles seus lábios que atraíam a atenção de todo homem que passava. Seu beijo era como o primeiro beijo do mundo. Eu sentia cada centímetro do seu corpo que me tocava. Agarrei-me a ela e nos perdemos nos nossos beijos e nossas peles.

Eu a invejava pela sua determinação e despreocupação com a nossa platéia. Sua mão desceu do meu pescoço até meus seios - já endurecidos de tão excitados. E, juntas, exploramos nossos corpos por cima das nossas roupas e eu já não via ninguém, já não escutava a música. Só sentia a euforia do nosso encontro e o desejo, cada vez mais ardente, de tê-la comigo pelo resto da noite. Sua mão subiu a minha saia e acariciou minhas coxas e eu, já sem controle, enfiei a minha dentro da sua blusa e senti toda a rigidez excitante de seu seio. Nossas línguas não se separavam. Chupei seu pescoço, lambi seu decote e ela me agarrava e me apertava e por mim eu morria ali mesmo. Foi a minha primeira noite, meu primeiro verdadeiro beijo, meu único desejo.

E senti uma pressão no meu ombro que não era ela. Virei-me desconcertada e olhos tristes e confusos me olhavam emanando daquele corpo cheio de músculos e carinho que pertencia ao meu namorado. Ele me encarava como se não me conhecesse. E, por um segundo, eu também não me conheci. Não era a mesma. E tudo havia mudado.

Voltei o meu olhar novamente àquela mulher e, em um segundo, esqueci de todo o resto. Nada mais importava. E agora?


[L.F.]

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