Thursday, June 19, 2008

Soneto do amor sem jeito

Amo-te sem palavras e declamações
Na calma da manhã e no suspiro do anoitecer
Na busca extasiada de chuva sem trovões
Amo-te a esmo no calado entardecer

Amo-te como se não fosse de verdade
É sentir sem tocar o teu corpo quente
É beijar sem encostar na tua boca ardente
Amor sustentado por eterna saudade

De uma longa distância esse amor sustento
Guardando-o entre lágrimas com dor no peito
Mantendo o orgulho encravado no silêncio

Eu deixo para trás esse amor desfeito
Sem nunca proclamá-lo aos quatro ventos
Para não dar esperança a um amor sem jeito.

[L.F.]

Wednesday, June 18, 2008

Eu vejo flores

Eu vejo flores cercando o terreno arenoso, cobrindo o chão morto e deserto com cor e ar fresco. Vejo-as, também, subindo paredes e escalando muros abandonados, cobrindo o sujo, o velho, o mal-lavado, transformando o escuro em claro, o sombrio em alegre.

Eu vejo flores nas favelas, sendo pisadas por pés pequenos e pobres durante pequenos campeonatos de bola, murchando em suas raízes para não atrapalhar ninguém, reerguendo-se logo em seguida, para contemplar aqueles pequenos mundos tão triste e, no entanto, tão cheios de simples riquezas.

Eu vejo flores cabisbaixas sendo arrancadas, trituradas pelo caule, carregadas por longas distâncias, passeando nos últimos minutos de suas vidas cortadas pelo meio, dando um último suspiro de alegria ao serem entregues a uma pessoa qualquer, que as recebe com um sorriso.

Eu vejo flores por onde passo, crescendo vertiginosamente, sem saber como findarão, como parecerão, se terão boas vidas, se foram bonitas, se causaram alegria ou tristessa. Se foram convidadas de um casamento, se presenciaram um aniversário, se foram companheiras de luto em algum padecimento.

Eu vejo flores desejando terem nascido no campo, longe de pés e mãos que machucam sua grandeza. Eu vejo flores implorando para serem flores de namorados e amores e felicidades, - e não flores de morte, de doenças e depressões.

Eu vejo flores todos os dias. As observo e as invejo. Eu vejo flores que nascem belas e que, caso não sejam escolhidas para cumprir algum objetivo humano, permanecem belas durante suas curtas vidas e morrem orgulhosas, semeando as terras com mais flores.

Eu vejo flores e me alegro, mas mantenho a distância. Eu vejo flores e espero vê-las sempre, sem que tenham medo de mim, para que se mantenham felizes as flores do meu jardim. Para que cresçam eternamente, para dentro da minha casa, do meu quarto. Para que invadam meus sonhos e meus ideais. Para que sejamos iguais, eu e minhas flores, colorindo o mundo em vida e deixando uma vívida lembrança em nossa partida.


[L.F.]

Thursday, June 12, 2008

Tira da tua boca essa palavra selvagem. Esconda suas verdades e exponhas suas demências. A tortura me alimenta, me sustenta, me entorpece com seus antros mágicos de loucura.

Tira da tua boca essa palavra suja. Essa condensação de maus pensamentos, essa relva de verde pastoso, seboso, ocioso e lento. Joga fora esse lixo que é o meu desmatamento, o fogo da minha madeira que queima queima queima e explode sobre as cabeças de pobres seres inconscientes e humanos.

Joga, pisa, derrete essa palavra que corrompe os nossos pés e as nossas mãos e as nossas vértebras e nos deixa imóveis, em estado vegetativo, em coma, em cima de uma cama de lençóis ácidos. Eu quero escutar os gritos escuros e mórbidos, silenciosos como pedra estática, de uma voz inexistente em meus ouvidos surdos.

Livre-se dessa palavra que é sua condenação, sua sentença obscura ao reino das lágrimas e penumbras. Jogue-a, espanque-a, CORRA.

Livre-se dessa palavra que quase deixa transparecer a sua insegurança. Prove que a nada teme, assim como eu, que a tudo temo.

Corra e fuja, mate-se! antes de encontrar essa palavra, que se chama...


[L.F.]

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