Tuesday, May 09, 2006

Rotina

O dia-a-dia às vezes é torturante. Para todos. Para os que trabalham, que se esforçam todos os dias para por comida na mesa; para aqueles que estudam, que mergulham em diversos mundos diferentes de economia, matemática ou direito para algum dia serem algum tipo de profissional competente; até para aqueles que não fazem nada, que desistem de tentar ou tem preguiça, que preferem gastar sua herança em atividades monótonas e passageiras do que almejar a um futuro seguro e digno. O dia-a-dia chega a ser perverso.

A rotina nos consome de modo desgastante e cruel. Nos prendemos tanto a aquelas atividades rotineiras que esquecemos que existe vida além da normalidade. De repente, estamos cansados para fazer qualquer coisa. O final de semana é um berço para o sono, o descanso e o Faustão e o Gugu no domingo apenas por não termos mais forças para qualquer outra atividade. Desgastamos nosso corpo, nossa mente e nosso espírito por causa do ócio causado pelo estresse da semana corriqueira.

De repente a mulher chega em casa da semana de plantão e não vê os filhos, não vê o marido, não vê o cachorro. Vê o quadro que está torto, o carpete que está enrugado, o café velho na mesa, o pó na janela. Ela já não fala; ela reclama. Ela não conversa; ela briga. Ela não diz "Oi, boa tarde"; diz "Oi, não me acorde". E o homem que chega em casa depois de um final de semana no sul em reunião que não vê os filhos ou a mulher. Vê o sofá, a cerveja e o futebol na televisão. O menino chega em casa da escola e não vê a mãe e o pai. Vê o som do seu quarto em volume desmedido, o computador ligado até as 4 da madrugada e a Playboy do mês escondida de baixo do tapete do banheiro.

E as famílias se acabam. As conversas, os diálogos cessam. O mundo desaba e os relacionamentos se tornam verdadeiros agentes da mentira, cobiça, descaso, indiferença, exclusão familiar.

O dia-a-dia é cruel.

Ninguém entende mais ninguém. Ninguém entende o estresse da mãe, o cansaço do pai, o descaso do filho, a depressão da filha, o porque de tanta mudança em um ambiente que era, antes, tão conhecido por todos.

Ninguém compreende que o dia-a-dia não precisa ser sinônimo de mesmice ou rotina. Ninguém entende que uma simples conversa antes de dormir pode curar uma tristeza; que um sorriso sincero pode descansar um corpo; que um simples abraço pode significar o amor de uma eternidade. Um passeio pelo parque, uma ida à praia, um filme no cinema. Tão simples. Uma mudança só acarreta milhares de pequenas mudanças em todos e em tudo. O Efeito Borboleta nunca foi tão verdadeiro. Um pequeno passo pode criar um grande avanço. O dia-a-dia não precisa ser cruel. Não precisa ser torturante ou perverso.

O dia-a-dia pode ser maravilhoso e encantador. Todos podemos descobrir pequenas riquezas em cada dia de nossas vidas. Em cada esquina, cada loja, cada quarto. A casa é o coração de uma família. Mas com tanta correria, passamos a esquecer disso. Mas, isso não é necessário. É só olhar em volta de si e lembrar que sempre haverá um momentinho amanhã para um cochilo. E a vida não precisa ser monótona, é só vivê-la com paixão. A rotina de cada um é apenas um lembrete, não vamos esquecer de lê-lo.

[L.F.]

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