Friday, September 15, 2006

Ela era um oásis de areias brancas e sedosas que inundava minha visão com seus movimentos abstratos e excêntricos. Sua presença era um ímã que me atraía a cada ponto sensual do corpo. Meus olhos nao viam a festa, as luzes, as pessoas, os olhares. Só viam ela, bela, seu todo num êxtase inimaginável, fantástico. Ela era a própria razão da minha maravilha. Ela dançava como se fosse a primeira dança do mundo, a primeira mulher a se perder num labirinto de ritmos e palavras.

Eu suava descontroladamente. Meu corpo tremia como uma nave espacial se preparando para decolar. Me imaginava voando em alta velocidade rumo ao céu com ela ao meu lado, olhando com para mim com aqueles olhos tristes de mel. E ela me perguntava "para onde vamos" e eu dizia "vou te mostrar as estrelas". Mas ela era quem guiava nossa aventura, ela comandava e mandava e eu obedecia como se o objetivo da minha vida fosse satisfazer suas vontades.

Eu virava e girava e procurava algo para desviar minha atenção, mas ela me corroía. E eu deixava e gostava. Perdi toda a vergonha. Todos os meus segredos foram revelados para o mundo e eu estava livre. Uma onda de alívio me percorreu o corpo, a alma. Parecia que esperava por aquele momento há milênios. Aquela mulher que faria com que se despertasse o melhor que havia em mim, o natural e lindo que havia em mim.

Ergui a cabeça e rezei para não me lembrar de nada no dia seguinte. Rezei para que o álcool guardasse toda aquela noite à sete chaves do meu consciente para sempre. Que apenas restasse uma sensação de felicidade e ternura.

A forte e pesada bateria de um rock qualquer que tocava, aos poucos, ia aumentando a minha coragem. Até que o solo da guitarra estourou, empurrando meu coração de encontro ao dela, carregando meu corpo em direção ao dela, fixando meus olhos aos dela que, para minha inocente surpresa, me olhavam com o mesmo desejo que os meus. E eu a engolia, a despia, a lambia com meus olhos. Via toda a extensão macia da sua pele, o emaranhado dos seus cabelos negros, a sua vontade de se entregar para mim.

Eu já quase correndo em direção a ela, esbarrando em pessoas sem rostos, sem identidade. Ela estava num êxtase que deixava sua face rosada, maravilhosamente corada. Eu cada vez mais perto e ela abria, lentamente, seus lábios. Sua língua brincava dentro da sua boca úmida, me convidando a provar da sua água, me convidando ao seu feitiço.

Cheguei ao seu encontro e não haviam palavras. Ela alisou meus cabelos longos, quase tão negros quanto os dela, acariciando meu pescoço e meus ombros. Me tomou pela mão e me puxou ao seu encontro. Virei, de repente, uma criança em suas mãos. Vi as pessoas se afastando de nós com surpresa. Ela me sorriu o mais lindo sorriso que jamais havia visto e, me puxando pela cintura, se agarrou em mim e me beijou com aqueles seus lábios que atraíam a atenção de todo homem que passava. Seu beijo era como o primeiro beijo do mundo. Eu sentia cada centímetro do seu corpo que me tocava. Agarrei-me a ela e nos perdemos nos nossos beijos e nossas peles.

Eu a invejava pela sua determinação e despreocupação com a nossa platéia. Sua mão desceu do meu pescoço até meus seios - já endurecidos de tão excitados. E, juntas, exploramos nossos corpos por cima das nossas roupas e eu já não via ninguém, já não escutava a música. Só sentia a euforia do nosso encontro e o desejo, cada vez mais ardente, de tê-la comigo pelo resto da noite. Sua mão subiu a minha saia e acariciou minhas coxas e eu, já sem controle, enfiei a minha dentro da sua blusa e senti toda a rigidez excitante de seu seio. Nossas línguas não se separavam. Chupei seu pescoço, lambi seu decote e ela me agarrava e me apertava e por mim eu morria ali mesmo. Foi a minha primeira noite, meu primeiro verdadeiro beijo, meu único desejo.

E senti uma pressão no meu ombro que não era ela. Virei-me desconcertada e olhos tristes e confusos me olhavam emanando daquele corpo cheio de músculos e carinho que pertencia ao meu namorado. Ele me encarava como se não me conhecesse. E, por um segundo, eu também não me conheci. Não era a mesma. E tudo havia mudado.

Voltei o meu olhar novamente àquela mulher e, em um segundo, esqueci de todo o resto. Nada mais importava. E agora?


[L.F.]

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