Monday, December 11, 2006

Depoimento
Chão sujo, objetos caídos em desordem, nada onde devia estar. Sombras confusas por toda parte, um jogo mirabolante de luzes nas paredes, talvez um abajur ou uma lâmpada qualquer quebrada. Vozes gritando, talvez desesperadas, talvez dando ordens. Através da janela um muro branco estampado com pegadas e manchas vermelhas. Mais sombras, indo, voltando, dançando no quintal. Um objeto prateado flutua pela sala, brincando, zombando, pedindo para ser pego. Ele vai e vem e quanto mais tento pegá-lo, mais fraco fico, mais vulnerável fico. Um vulto preto mistura-se com a escuridão da noite. Minha cabeça dói, impedindo-me de entender o que acontecia. A visão perfeita da qual sempre me orgulhei me traía, me enganava, me sentia míope, cego. Borrões, manchas, sombras, nada claro, nada nítido. Não havia dor, não havia raiva, já não sentia nada. Mais vultos negros. Será salvação? Será socorro? Manchas vermelhas por todo canto. Estava acabando. Iria ficar tudo bem. As vozes se acalmavam, a luz clareava, as manchas se tornavam mais nítidas. Um peso levanta-se do meu corpo, rendendo-se aos vultos, fiquei leve, suspirei, estava aliviado. Havia acabado. Com o que me restava de forças, levantei-me. Estava sangrando, mas não havia feridas. Um objeto metálico cai da minha mão, enquanto os vultos negros me envolvem. Finalmente, um pouco de ar livre, um pouco de paz. Tudo certo, tudo em seu devido lugar, tudo como deveria estar. E um par de algemas atando minhas mãos para garantir que tudo continue assim.
[L.F.]

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