Wednesday, June 18, 2008

Eu vejo flores

Eu vejo flores cercando o terreno arenoso, cobrindo o chão morto e deserto com cor e ar fresco. Vejo-as, também, subindo paredes e escalando muros abandonados, cobrindo o sujo, o velho, o mal-lavado, transformando o escuro em claro, o sombrio em alegre.

Eu vejo flores nas favelas, sendo pisadas por pés pequenos e pobres durante pequenos campeonatos de bola, murchando em suas raízes para não atrapalhar ninguém, reerguendo-se logo em seguida, para contemplar aqueles pequenos mundos tão triste e, no entanto, tão cheios de simples riquezas.

Eu vejo flores cabisbaixas sendo arrancadas, trituradas pelo caule, carregadas por longas distâncias, passeando nos últimos minutos de suas vidas cortadas pelo meio, dando um último suspiro de alegria ao serem entregues a uma pessoa qualquer, que as recebe com um sorriso.

Eu vejo flores por onde passo, crescendo vertiginosamente, sem saber como findarão, como parecerão, se terão boas vidas, se foram bonitas, se causaram alegria ou tristessa. Se foram convidadas de um casamento, se presenciaram um aniversário, se foram companheiras de luto em algum padecimento.

Eu vejo flores desejando terem nascido no campo, longe de pés e mãos que machucam sua grandeza. Eu vejo flores implorando para serem flores de namorados e amores e felicidades, - e não flores de morte, de doenças e depressões.

Eu vejo flores todos os dias. As observo e as invejo. Eu vejo flores que nascem belas e que, caso não sejam escolhidas para cumprir algum objetivo humano, permanecem belas durante suas curtas vidas e morrem orgulhosas, semeando as terras com mais flores.

Eu vejo flores e me alegro, mas mantenho a distância. Eu vejo flores e espero vê-las sempre, sem que tenham medo de mim, para que se mantenham felizes as flores do meu jardim. Para que cresçam eternamente, para dentro da minha casa, do meu quarto. Para que invadam meus sonhos e meus ideais. Para que sejamos iguais, eu e minhas flores, colorindo o mundo em vida e deixando uma vívida lembrança em nossa partida.


[L.F.]

Comments:
Ai, céus!
E ainda tem coragem de dizer que tem vergonha de mostrar o blog.

Vergonha tenho eu
quando leio o teu
e depois o meu.

hahaha


Lindas, sensíveis e ácidas palavrars.


Beijo.

Tamara.
 
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